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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

--.--.-- arabesque --.--.--

Junho 19, 2008

 

 

À luz pálida das estrelas e da lua em decrescente, pensou que era engraçado como tudo tinha um tempo. Um ciclo para tudo e para tudo um ponto final. As árvores da avenida sussurravam segredos ao vento, e os passos dela ecoavam, como se se tratasse de um caminhante distante.

Trazia um casaco pendurado no braço, apesar da névoa fria a fazer tremer de vez em quando, e da pele por debaixo da seda fina pedir mais aconchego, trazia o casaco pendurado no braço. O vestido comprido reflectia o firmamento, projectando na avenida parcos brilhos cintilantes. Madeixas rebeldes de cabelo ondulado fugiam do sóbrio penteado, balouçando a cada passo diante dos olhos dela. Não as afastava. Seguia uma linha imaginária, traçada a tinta de dor de alma, alheia ao lento balouçar dos barcos, presa ao movimento constante da aliança que rodava no seu próprio dedo.

O vento fez rodopiar algumas folhas secas, que se prenderam ao vestido. Pensou que mesmo depois do fim, há ironias do destino. Lembrou-se de dançar ao vento com as folhas mortas em dias de tempestade. Com as tempestades de fora sabia lidar, com ritmo, com danças de folhas a rodopiar. Esta tempestade de dentro, que a mergulhava numa tranquilidade aparente e ao mesmo tempo a transformava num turbilhão já vinha fora de tempo, não trazia chuva nem vento, nem folhas a levantar-se do chão. Mas tudo tem o seu tempo…

Lembrou-se do calor de outra mão. De simetrias perfeitas, de cumplicidade. Lembrou-se de sorrisos. Lembrou-se de muitas palavras, muitas vezes repetidas. E de paz. Teve saudades. Não do calor ou do aconchego. Quebrado o laço, tudo tinha sabor de segredo e falsa verdade. Mas saudades da paz. Da certeza do silêncio. Do peso leve da solidão consciente face ao pesado fardo da certeza confirmada. Ninguém muda. E um tudo, muitas vezes , é mesmo nada. Suspirou e levantou a cabeça. Chegava o tempo da madrugada.

À luz intermitente do farol, deixou cair o casaco e a aliança polida, deu mais um passo e outro ainda. De olhos sempre postos no céu. Fundiu-se no branco da espuma, agradeceu o abraço da água profunda e sorriu. Fechou os olhos e, no fim do seu tempo, morreu.

 

 

 

 

 

 

 

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