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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

...

Janeiro 10, 2013

Como o mar, que se acalma e aquieta
e adormece no longe que a lua banha de prata
indistinto, irreal aos olhos do mundo
meros reflexos fugazes que se perdem, no fundo

Como o mar, feroz, de espuma branca
que ruge ao mundo e se agiganta,
e passa as garras para lá do muro,
azul lago indolente, cambiante e seguro

Perdido na noite, rasgos de prata a brilhar
vulcão de espuma branca que corta o ar,
meigo, fresco, profundo, inebriante,
eterno. Diferente, latente, constante.

Honestamente

Julho 02, 2012

 

Recusar-me conscientemente,

todos os dias,

aquilo que mais quero na vida,

tem sido a tarefa mais difícil e inútil

a que alguma vez me dediquei.

 

É um esforço enorme,

Requer uma tremenda disciplina

E, se no final não resulta, então,

Estou a ser louca!

 

Creio que chegou o momento.

Se toda esta energia, esta força

De vontade aplicadas a um único

Objectivo não resultam…de

 

MUDAR DE RUMO

 

 

Honesty

- - - - - A estrada - - - - -

Setembro 03, 2008

 

 

 

A estrada estendia-se sinuosa ainda que dela se avistassem apenas laivos de riscos brancos, como num filme a preto e branco antigo se distinguem falhas na pelicula por fugazes salpicos de luz.

Aqui e ali apareciam-lhe rostos familiares, hologramas projectados por uma infernal máquina invisivel que parecia persegui-lhe a vida com imagens desencantadas nos mais profundos baús de memórias, há muito enterrados e até agora corajosamente esquecidos.

Cumprimentava, com um discreto aceno de cabeça e um sorriso vago as caras que a faziam lembrar momentos cálidos, leves, pertença de outra dimensão e de outro espaço que não este, onde aliás não sabia muito bem porque estava, mas a estrada não a cansava, ainda que parecesse não levar a lugar nenhum e, de vez em quando lhe apresentasse rostos de que se desviava com um franzir de sobrolho, embora ficasse a pensar de onde e como e quando e porque lhe apareciam aquelas pessoas agora, a meio de um caminho tão agradável, ainda que escuro e algo misterioso. As imagens surgiam  e desvaneciam-se como  fogo-de-artifício, primeiro leves traços esbatidos de luzes coloridas, depois imagens brilhantes e expressivas, finalmente esmorecidas visões que se desfaziam em nada no breu que as devorava.

De ora em tanto era surpreendida por uma chegada mais vigorosa, fruto de uma lembrança recente ou de algum episódio marcante, mas da mesma forma que as outras, também estas imagens se desvaneciam, deixando lugar apenas à penumbra disfarçada de riscos brancos que pareciam indicar-lhe sempre a direcção da estrada. Batia-lhe no entanto o coração mais depressa, formando um eco no silêncio vazio da noite sem fim, quando um destes fantasmas a transportava sem aviso para outros tempos e outras paragens, para outras estradas, outros mares, e a depositava de novo repentinamente neste fio de estrada sem margem. Mas também o som se calava, afastando-se devagar com o vento que soprava do nada, sem direcção e sem rumo, embalando-lhe a lenta caminhada.

Depois de rever os rostos da sua história, uns sorridentes, outros acabrunhados, uns hesitantes, outros mal-encarados, verfuriosos ou carrancudos, voltava a fechá-los no baú, e mesmmo que quisesse revê-los estavam, desta vez, para sempre apagados.  

Ao fundo da estrada  o livro da vida, calmamente deliciado, ia desfolhando ao sabor do vento páginas que a traziam inevitávelmente ao ultimo capítulo, ainda por escrever, mas já resenhado.

 

 

 

 

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Ao fim da noite

Fevereiro 23, 2008

Ao fim da noite desdobro-me, sou feiticeira e feitiço alado, sou vento que corre leve, no teu peito aconchegado. Ao fim da noite recomeço, com novas artes e magia, sou apenas um pássaro, breve cotovia. Ao fim da noite perco o rumo, deixo o tempo adormecer, sou um fantasma alado, que sabes reconhecer. Ao fim da noite sou piano, cujas notas ouves ao luar, sou melodia eterna, em berço de embalar. Ao fim da noite sou poema, em rimas de inventar, sou anátema em eterno desvendar. Ao fim da noite sou cigana, folhos e luzes de bailar, sou apenas uma sombra de velas a bruxulear. Ao fim da noite sou sereia, em mares de naufragar, sou corrida de estrelas em suspensão no ar. Ao fim da noite sou silêncio, verso e abraçar, ao fim da noite sou segredo, que não sabes encontrar.

 

Ao fim da noite na praia, sou maré em eterno vazar, sou concha vazia e dispersa entre grãos a vaguear. Ao fim da noite na água, sou alga a flutuar, presa ao destino incerto de uma onda a rebentar. Ao fim da noite da ilha, apenas vejo brilhar a candeia que manténs acesa, para te saber procurar. Ao fim da noite sou sacerdotisa do amor que comparte a tua vida, a destrói e suaviza e te faz sentir maior. Ao fim da noite nas trevas, sou borboleta a esvoaçar, queima as asas mas repete, crê que a luz a vai saciar. Ao fim da noite sou infinito espraiado no teu corpo, sou carícia, sou riso, sou gemido rouco. Ao fim da noite sou sonho, palavras de cheiro risonho, versos de recomeçar. Ao fim da noite sou ponte, passadiço por levantar, ao fim da noite sou praia, adormecida ao luar.   

   

    

    

     

     

     

 

 

 

 

 

 

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Esta imagem foi roubada aqui

 

 

Luz Violeta

Fevereiro 18, 2008

 

 

 

 

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- Nããããoo!

 

O grito ecoou pelo prédio inteiro, enquanto Manuel acordava de um sonho, coberto de suor e se sentava sem saber bem como na cama.

 

Acenderam-se luzes nos quartos dos apartamentos vizinhos, perguntou-se baixinho o que seria, olhando ainda estremunhados os casais um para o outro, sentindo o coração bater cada vez mais depressa e disparar, cavalgar loucamente pelas estradas do medo.

 

- Que foi isto? Quem gritou assim? Perguntou Manuela ao marido. – Que terá acontecido?

 

Manuel encostou-se às almofadas, respirando com dificuldade. Escorria-lhe suor pela cara abaixo, o pijama estava encharcado. As mãos tremiam-lhe se que as pudesse parar e as lágrimas misturadas com o suor salgado faziam-no parecer um espectro, sem cor e de olhos alucinados. Apertou os joelhos com os braços, tremendo sem parar, gemendo algo ininteligível, murmurando torturas com o olhar. Procurou a parede, a janela, e ver para além dela, a luz pálida do luar. Estava branca, a lua.

 

Não tinha noção do tamanho do grito nem da onda de terror que provocara. Não sabia que nas casas vizinhas havia ainda luzes por apagar, mulheres que se encostavam aos maridos, a cabeça a latejar, presas ao horror do grito que as fizera acordar. Havia gente sozinha, de luzes acesas a tentar esquecer, a tentar fechar os olhos e adormecer. Porque sempre se adormece sozinho, por mais gente que se tenha ao lado, o caminho do sono é solitário, assim como o da morte ou o da vida.

 

Alguns reviveram medos de infância, que pensavam ter ultrapassado, outros ficaram de olhos abertos, na esperança de perceber, pelos ruídos do prédio, o que podia ter-se passado. Mas Manuel mantinha-se imóvel, olhos postos na lua, branca, branca e fria. Afinal só tinha sonhado, era a sua casa, a sua cama, o seu mundo e ainda vivia. Aos poucos o corpo foi-lhe obedecendo e voltou a prender os fios de pensamento, a dirigi-los em vez de se deixar levar por eles.

 

Este sonho repetitivo e insistente havia meses que lhe tirava o sono. Tirara-lhe a Sónia, tirara-lhe os filhos. Apenas lhe restava os comprimidos pequenos que o faziam cair num sono pesado. E não o impediam de sonhar. Ao longo dos meses construíra o puzzle, tinha sonhado cada fragmento, cada imagem, cada desenvolver de horror, sempre o fim.

Mas nunca tinha sonhado o princípio antes de hoje, e por isso gritara assim. Por isso o frio lhe gelava o corpo e a alma, por isso tremia sem fim.

 

Tanto quanto se conseguia lembrar, não havia relatos de terramotos neste país. Apesar de ter pesquisado, quando os sonhos o visitavam em noites distantes entre si, antes de perder a capacidade de raciocinar, não havia conhecimento de nada que pudesse fazer o mundo acabar assim. Convencera-se que o sonho era uma analogia, que retratava a sua vida e não a do mundo, e que, mais dia menos dia, sonharia o seu próprio fim.

 

Agarrou nos seus pequenos companheiros de viagem, agora que tinha sonhado o principio, talvez tivesse chegado o fim, e pudesse acordar de novo, para uma vida sem pesadelos insistentes, para um dia-a-dia comum, banal e rotineiro, que lhe parecia agora de todos, o destino mais desejado. Reviu a luz violácea que o fizer gritar, estremeceu.

Um copo de água, tomou os comprimidos, fechou os olhos e adormeceu.

 

 

Aos poucos foram sossegando as casas vizinhas, o escuro foi disfarçando as janelas. Levantou-se um burburinho lá fora. Uma onda de sons desconhecidos e inquietantes encheu o ar e todo o espaço, mas Manuel dormia sem sonhos, pela primeira vez em muito tempo, para ele nada disto aconteceu. E num clarão violeta gelado, perante os olhos dos satélites imediatamente obsoletos, o mundo inteiro desapareceu.

 

 

 

 

 

 

 

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