Tempo
Setembro 22, 2007
E um dia o tempo pára. Assim do nada, a meio dum dia perfeito,
falta-me o ar, some-se a luz e silenciam-se os ruídos, abrem-se os sentidos, o meu coração pára. Morro por fracções de segundo.
E no filme da minha vida, desenrolado sob os meus olhos, neste ponto entre a vida e a morte em que me encontro, vejo a cores alguns abraços e alguns sorrisos. Flores. Vendavais e aconchegos. E sobretudo sinto. Sinto um frio enorme que vem de dentro, que me ataca saltando do filme cinzento. A música tem voz de Elis Regina, as lágrimas sabor a sal. Que filme é este? A minha vida não é só isto! Tem mais sol, mais calor, tem mais sal. Mas passa como as imagens que vejo, sempre a correr. E olhando com mais atenção já vejo, tudo o que deixei de fazer e me queima como cal. E se ficasse assim agora, se esta paragem fosse realmente fatal, que diria eu que fiz da minha vida afinal? Tantos momentos de faz-de-conta, em que se sabe que se finge, mas parece que não faz mal. Plantar árvores, fazer filhos e ler livros são coisas de homens, que eu também já fiz, a minha vida nem por isso faz sentido agora, aqui. Nesta hora em que o tempo pára e mostra um espelho de mim. Afinal os sorrisos não foram tantos, parecem mais os gritos e os desencantos. Afinal as músicas já não as sei, esqueci as letras, as melodias também. Neste filme afinal, parece que de importante vejo tudo o que não fiz, todos os gestos contidos, as palavras silenciadas, os segredos contados ao vento, as lágrimas roladas no pó. Talvez por não saber amar, dar uma e outra vez sem contar, perder sempre e ser capaz de recomeçar, talvez por isso me sinta só, porque amar sem medida conjuga-se com “ser correspondida” mas deste amor tão grande, talvez nunca tenha sido capaz. Não há imagens de tudo o que não vi. Porque haveria disso aqui? Neste filme recheado de sentimentos perdidos, esbatidos e rarefeitos não há lugar para lugares e monumentos. E fica tanto espaço por preencher de gestos e afectos. De pequenos milagres e ínfimos momentos. Não quero chegar à paragem final, àquela em que tudo deixa de fazer mal, vazia, arrependida de tudo o que não fiz um dia….
Carpe diem? Faz tanto sentido agora....