É assim...entre outras coisas apanhamos as expressões que ouvimos diáriamente e incluimo-las no nosso vocabulário e quando damos por isso estamos a escrever um texto que começa por ...”é assim”. Mas, de facto, é assim. Viver é caminhar sobre uma corda bamba, procurando o equilibrio a cada instante.
Começamos por dar passos. Pequenos e hesitantes. Vamos, a pouco e pouco, ganhando confiança. Em nós e nos outros. E assim vamos
progredindo, ou pensando que sim, e ao dar o próximo passo por pouco não caímos.
(Porque achávamos que que sabíamos onde pôr os pés e nos descuidamos do nosso objectivo principal. Atravessar a corda, sem saber sequer o que nos espera do outro lado, e sem grandes pressas de lá chegar.)
Ironia do destino. Precisamente quando achamos que sabemos o que estamos a fazer, que traçámos um destino e nada nos vai demover, a corda abana, faz-nos tremer, perdemos o ritmo, o sentido do nosso destino, o mundo abre a boca e prepara-se para nos comer.
Lá tentamos continuar. Entre os apupos e os apalusos. Entre os dias negros e os dias de sal, entre os dias que nunca mais acabam e os que nem deviam começar. Entre tudo o que queremos, nos pedem, desejamos, esquecemos, ouvimos, omitimos e, lentamente, a passos curtos e hesitantes, por vezes conseguimos.
(Entre os que nos gritam palavras de apoio e os que ficam calados, apenas à espera de nos ver cair ao chão e por lá ficar. Acontece, que, é lá que eles estão. Engraçado. Se a vida é um longo passeio de corda bamba, que fazem eles no chão? Ah, pois é! São os que já caíram.)
Palhaços da vida, trapezistas, equilibristas, vendedores de ilusões e sensações a um mundo de gente caída. Apesar de tudo, ainda no ar. Apesar de todos, ainda a caminhar.
Apesar da vida, e da corda que ela manobra sabiamente para nos fazer vacilar. Apesar de por vezes, se viver com pesar.
Gosto de viver na corda bamba
A ritmo de jazz de blues e de samba
A desejo de ternura e de beijos
A cores de mágoas e desenganos
A luz de palavras, amargas e sábias
Ao sabor dos sentidos, dos amigos
Ao calor da chuva ao cheiro do vento
Entre segredos e portentos
Gosto de viver na corda bamba
Das arrelias, das tropelias,
Das mágoas que se curam em abraços
Das pequenas pausas entre passos
Dos sorrisos carregados de magia.
Das lutas e das vitórias
Das palavras carregadas de memórias
Entre as estórias e a história.
Gosto de viver na corda bamba
E se esta vida é um circo
Entre trapézio e trampolim,
Entre palhaços e leões
Entre o arranhar e rugir das feras
Entre os intervalos e as esperas
Entre o domador e o ilusionsita,
que entra sem pressas nas pista,
que enche a vida de brilho,
entre saxofones e violinos
Que faz com que tudo aconteça
Escolho ser funâmbulo,
Obrigar a levantar cabeças
Ainda que vacile e tropece
Ainda que hesite e recomece
Não troco por um segundo
Um caminho periclitante,
Por um marasmo seguro.
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Um funâmbulo é um sonhador
sabe sempre que pode cair
veste-se de luz e de cor
afasta o receio, mas caminha a sorrir
tem sempre mais e mais a descobrir
No alto sente apenas a magia
Aprecia a imensidão das alturas
Vive a vida como se fosse o último dia
esquece todas, todas as amarguras
esquece até as quedas mais duras
Equilibrista de tempestades
caminhante de espaços sonhados
finge que falha e sem vaidades
quando falha esquece os entraves
e volta ao ritmo em passos dançados
Acrobatas, Malabaristas
Equlibristas, Palhaços
Domadores, Trapezistas
Na vida Ilusionistas
de quimeras e cansaços
Não troco por um segundo
uma vida sem surpresas
mesmo no declive profundo
nas ruínas do meu mundo
prefiro sempre as incertezas
Ki, nos Ronrons...