Casamento Árabe (continuação e fim)
Outubro 12, 2007
As tendas perfilavam-se ao longe quando acordou, ao som da voz da sua “criada”. Palmeiras imensas e luzes de prata, uma orquestra que ensaiava, desafinada.
A tenda principal, fracamente iluminada, sons de pratos e cristais e de gente que trabalha apressada. Foi levada à sua tenda, para se poder refrescar e preparar para a cerimónia. Lembrou-se vagamente de histórias de adolescentes, em que o príncipe árabe encantado as levava para a vida que agora se lhe deparava. Tratou de tirar a roupa amarrotada, tomar um banho, aprontar-se para não chegar atrasada. Devia juntar-se à cerimónia das mulheres, e se bem que não sabendo o que era, não queria fazer nada que a deixasse envergonhada.
Entre frases perdidas e algumas gargalhadas, entre pratos de iguarias que lhe eram apresentadas, não teve nunca a possibilidade de trocar palavras com Isabella. E abriram-se as portas para a cerimónia, num misto de tradições antigas e aceitação de outras novas e, tomaram os seu lugares os noivos, o padrinho, de árabe vestido, e ela. E no momento preciso em que levantou os olhos, em que lhe viu o rosto, o seu coração disparou e perdeu o fôlego, se não estivesse sentada cairia de certeza, ao ver de novo aquele olhar, aquele rosto e ouvir um doce e calmo “boa noite princesa”…
Mas já outras vozes apagavam aquela e entre gestos e sorrisos decorria a cerimónia e, envolta em nuvens de espesso desamparo cumpriu a sua missão, sem saber nem como nem quando. Sem se lembrar, sem sentir, sem ver mais nada, que uns olhos cinzentos, abertamente a fitá-la. Consciente sem o querer que, depois de tantos meses, não mudara nada.
Passaram as horas, passaram as danças, os rituais. Passaram muitos pratos e muitas bebidas, passaram tormentos, e olhos atentos agarrados aos dela. E sem mais demora, procurou a noiva e despediu-se dela. Sem uma palavra, sem uma pergunta, desejou-lhe felicidades, como se deseja só às irmãs que a vida traga sempre muita, e com espanto ouviu-a segredar-lhe ao ouvido, “tenho uma surpresa para ti, vai para a tenda e espera por mim.” Era a noite de núpcias dela, mas se sabia ter certeza de algo, era que nunca podia ter certezas com ela.
E ao entrar na tenda, agora bem iluminada, encontrou um batalhão de gente, roupas óleos, sedas e água perfumada. E mãos que a despiram, a lavaram, lhe entrançaram sabiamente o cabelo, a perfumaram….a tenda ficou vazia de gente e de vozes, iluminada parcamente por candeias e velas e de repente o cansaço enorme e o peso deste reencontro, pareceram mais leves, as lágrimas mais longe e, num espelho colocado à cabeceira da cama, viu a sua imagem reflectida….princesa das mil e uma noites, com que sempre sonhara…puxou um tapete para a rua e deitou-se no chão a contar estrelas…
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