Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Existem dias assim

Fevereiro 07, 2008

 

Porque é tão mais fácil deixar-se cair, porque nos atrai e não lhe queremos resistir porque depois de tocar no fundo não se pode descer mais e não há batalhas lutas ou guerras que nos façam procurar cais. Porque no fundo o abismo é reconfortante, como uma doce loucura que nos embala, que nos abraça e aperta e nos enlaça em memórias de certeza incerta e em ritmos de melancolia, a que o tempo lá fora responde e se alia. 

 

Existem dias assim, em crescendo no tempo, que nos fazem sentir insignificantes e pequenos em face de nós próprios, em que nos julgamos sem atenuantes e nos condenamos sem dó. E assim ocupamos todos os lugares vazios com fragmentos de histórias, de memórias, com restos de fotografias, tiradas a um futuro sonhado a cores que se fundem, e se transformam agora em imagens que confundem.

 

E nesta profunda desordem, fechamos a porta, para que não se veja que a vida vai torta, que o sol já não chega para secar os estragos e aquecer vontades e vivemos dias sem fim com demasiadas horas para o que sobra de nós e apenas querendo chegar ao fim, daquele hora, daquele dia, daquele lugar e daquela história. Fechar os olhos e adormecer. Deixar de saber. Deixar de querer e de recordar. Evitar sonhar.

 

E repousamos, no fundo desse abismo infinito, entre dias que passam e  vozes que gritam. E nestes dias em que nos pedem e roubam muito mais do que temos em nós, voltamos a sentir-nos vazios e sós. Vazios. Sentir. Voltamos a sentir. Primeiro um raio de sol. Depois as gotas de chuva. Entre vagas repetidas e correntes de espinhos, voltamos ao caminho. A uma mão que se estende, nos aperta e nos puxa, nos senta no alpendre, de cara para a vida, como um filme que passa, numa tela longínqua, desfocada, mas brilhante e convidativa…e estamos a um passo.

 

A um passo de viver ou deixar-nos levar pela vida.

 

Nelle tue mani

Fevereiro 06, 2008

Photobucket

 

Ainda não se viam luzes na cidade, as sombras da noite apagavam-lhe o caminho.

 

Mário seguia a ritmo certo, a passo lento e balançado. Afastava-se dos obstáculos com graça e cuidado. O armazém ficava longe, num bosque isolado, entre a única estrada alcatroada e as margens do lago, agora gelado. Abriu as portas e aspirou o ar daquele ginásio. Era naquela sala que trabalhava, incansavelmente, sem horas, sem pausas, sem dias. Era nesta sala e hoje, que a sua vida mudaria. Mas isso, ele ainda não sabia.

 

- Mário, pára um pouco, chega cá abaixo. Mário!

 

Vincenzo, pai de Mário, tinha já perto de 70 anos. Nem uma ruga. A pele clara, os olhos azuis e brilhantes, passos lentos e firmes de gato.

 

- Desce, trago-te uma visita!

 

Mário libertou-se das correias de segurança, prendeu os trapézios, desceu devagar.

 

Abraçou o pai ternamente, perguntado como estava, sentindo de novo um enorme carinho por este homem que tanto admirava.

 

- Mário, sei que treinas sem descanso, rigorosamente. Também sei que, treinar sem parceiro não é treinar, É fazer uso de força, gastar tempo, transpirar. Não sei se chego a tempo, filho, não sei se o Marco irá prestar, mas, por favor, antes de dizer que não, deixa o miúdo experimentar.

 

Encarou altivamente os olhos azuis, não queria treinar um novo parceiro. Não queria mais horas perdidas, mais entorses, lágrimas, mais recriminações e despedidas. A época estava a começar, o espectáculo alinhado para um só…

 

Não foi capaz de dizer que não. No ar está-se sempre só, em voos de longo curso, de brilhos e exclamações de receio, não há rede mais segura que a mão dum parceiro.

 

- Não lhe dou sequer dois dias. Mas pode ficar.

 

- Marco! Entra Marco! Vem conhecer o Mário.

 

Entrou um Marco tímido, de cabeça baixa, escondido entre negros cabelos encaracolados. Levantou os olhos devagar e….rufaram tambores em qualquer lado, sentaram-se orquestras na sala, invadiram a floresta músicos alados.

 

E um Mário de garganta seca e olhar turvado, estendeu a mão a Marco, que a apertou com cuidado.

 

Não se desprendiam olhares, não se ouvia um som e Vincenzo saiu devagar, um sorriso nos olhos e uma prece nos lábios.

 

 

Passaram algumas semanas e a estreia estava próxima, o circo montado de cores garridas, os altifalantes anunciando horários e sessões. As roulottes formavam um círculo, nesse centro juntavam-se à noite em conversas, jogos e treinos, trocavam conhecimentos e apuravam truques. A trupe era completamente nómada, não era um circo que fizesse largas temporadas em cada lugar, alguns artistas também actuavam noutros espectáculos conjugando interesses mútuos. Mário e Marco já voavam nos trapézios em sintonia, Marco caíra algumas vezes e magoara-se mas nunca desistira o que fez com que Mário o respeitasse cada vez mais, o sorriso foi-se abrindo e a empatia necessária surgiu, soubera pouco depois que Francesca era irmã de Marco, Vincenzo contactara-a para ser apresentadora do espectáculo, era bela e jovem mas não gostava muito de palavras.

 

A noite de estreia chegara, brilhos de cor, foguetes no ar, rebuliço imenso tudo a preparar sem tempo, os ilusionistas de negro em contraste com a assistente de púrpura os verdes e azuis dos lenços, os palhaços divertidos ainda sem nariz vermelho, os acrobatas que ponderavam a sincronia perfeita uma última vez, o Chapiteau azul e verde com cadeiras vermelhas montado pelos equilibristas já vestidos de cores ofuscantes para serem vistos ao pormenor de baixo.

 

Na noite anterior os trapézios tinham sido verificados, a segurança era algo que Vincenzo não descurava, de manhã tinha voltado a pedir para verificarem as cordas, os arames, a rede que. Mário dera indicações para a rede não ser usada e isso ser anunciado apenas quando os dois subissem aos trapézios.

 

Andreza a equilibrista que mais arriscava no arame ficou surpresa com o que acontecia na escuridão, cá em baixo a plateia só veria as faixas fluorescentes do fato dela e o arame também fluorescente, seria algo fascinante, só agora a observar o efeito no escuro percebia como resultava. A hora aproximava-se, Vincenzo como anfitrião reuniu todos desejou-lhes um bom show, dirigiu-se para a entrada querendo certificar-se que a entrada decorria em ordem. Marco chegaria a quinze minutos de actuar, Vincenzo pedira-lhe um favor que não poderia confiar a mais ninguém, sentia-se velho e cansado, essa seria a noite do filho. Decorreu tudo como previsto, os acrobatas, os palhaços, os ilusionistas, os equilibristas, alguns outros participantes pontuais que cada sessão de circo era sempre diferente no Chapiteau, chegara a hora esperada há meses por Mário, Vicenzo estava nervoso e discutia com o filho – Marco não tinha ainda chegado – não queria dizer o real motivo da demora e Mário insistia em subir para o trapézio sozinho, Vincenzo enerva-se ao ver Mário fazer o número sozinho, nada estava a ser como ele tanto fantasiara. Mário voou num perfeccionismo indescrítivel, aclamado pelo público que vibrava,o pai sentia-se orgulhoso mas começara a pressentir que algo não estava bem. O número de Mário e Marco era o último, o circo nessa noite deveria acabar com Vincenzo entregando nas mãos de Mário o Chapiteau, e a possibilidade de ter sucesso e ganhar prestígio nesta temporada que agora começara.

 

Vincenzo acabara de receber uma chamada de Marco, este contara-lhe que não voltava e que o dinheiro que tinha levado para fechar negócio com o mais cobiçado trapezista também não voltaria nem seria entregue. Todos os contactos com Alberti – o trapezista – tinham sido forjados por Marco e um cúmplice. Vincenzo perguntou-lhe o porquê da traição quando ele e Mário tanto o ajudaram, Marco sabia que não existiriam receitas para garantir o circo sem aquele artista e sem aquele dinheiro mas limitou-se a responder a Vincenzo:

 

 - A vida é um circo. Quem alto voa, sempre cai.

 

Gata & Ki, algures, num tempo qualquer.

 

  Carnaval

Fevereiro 05, 2008

 

 

mask

 

 

Dispo, perante ti,

cada retalho do meu fato de vida,

Cada enfeite, cada laço, cada fita.

Espalham-se lantejoulas,

caem serpentinas…

Desfaço a ilusão,

perco as cores e o brilho,

Cai a minha máscara citadina.

 

Descubro para ti,

recantos de mágicos silêncios

E sons únicos,

que nascem dos teus dedos.

Desabotoo o abrigo pesado

que me esconde dos dias

E sou eu, apenas, sem segredos.

 

Do toque suave com que me encantas,

qual feitiçaria

Nascem as cores com que vês,

a luz que me guia.

Caído o disfarce,

é o meu corpo que brilha,

O teu sorriso que me aquece,

A tua alma que me envolve,

a minha que te reconhece…

 

 

Entre um sol que brilha e um dia que anoitece

Entre fitas de serpentinas e chuvas de confetti

Somos…e a vida acontece.

 

 

 

 

 

 

♂♀

Fevereiro 01, 2008

Photobucket

 

 

Um dia encostar a cabeça no teu peito, já não vai ser um gesto de amor, será apenas mais uma rotina, um gesto habitual, que aceitarás, ausente, preso a outras frases e a outras cores, mesmo se fisicamente presente. A tua mão já não me afagará o cabelo em ritmo lento, apenas ficará pousada, inerte, peso leve numa cabeça alheada.

 

Um dia o meu sorriso, já não será tão contente, será apenas um reflexo, condicionado pela tua chegada. Já não haverá despertares a meio da madrugada, tudo terá horas, e o dia-a-dia será uma longa sequência regrada. Os meus olhos já não brilharão no teu sorriso, viveremos apenas em função de termos assumido um compromisso.

 

 

Será, meu querido? Que o tempo nos vai vencer, transformar o que a quatro mãos soubemos encaminhar e deixar crescer? Será que vamos viver apenas no mesmo espaço, compartilhando tarefas e um ocasional abraço? Será que afinal nas nossas mãos não vai haver mais forças, não vai haver mais notas, não vai haver mais versos e vamos passar o dia absortos, perdidos entre o que há para fazer e tudo o que está atrasado, perdendo o sentido e o sabor de um abraço de amor, de um aconchego procurado?

 

Que será de nós se chegar esse dia? Onde voarão os teus pensamentos, que bailará na minha cabeça vazia? Como faremos face às agruras, às tristezas de uma casa cheia e no entanto vazia? Que faremos do tempo dos nossos dias? Que mãos vão acarinhar as nossas, que braços nos vão confortar? Quem nos dirá baixinho, que até o que é mau tem que acabar? Como se conjuga o verbo conformar? Será que o tempo nos acaba? Será que a vida nos ataca e nos rouba o saber sonhar? Como se esquece o prazer de amar?

 

Hoje a minha mente viaja, procura respostas para perguntas hipoteticamente futuras, mas é teu o braço que embala a viagem, teus os olhos que procuro ver. Hoje sei o que quero ter, passados anos e anos ao teu lado, sei como te quero acordar, como quero amar um rosto já enrugado. Sei como quero que seja ter-te sempre ao meu lado. Hoje tenho a força de te amar, a força do amor com que me prendes e dás asas, hoje tenho tempo a perder, com perguntas inúteis e respostas complicadas.

 

 

Um dia já fomos amantes vorazes, já fomos cão e gata  de garras afiadas, já fomos vozes que gritam mentiras, olhos que escondem verdades. Um dia já fomos amigos, em longas conversas prolongadas, também fomos inimigos, de arma em punho, ainda que travada. Um dia já fomos mistério, floresta virgem, lentamente explorada, um dia fomos vizinhos, na mesma casa, de cara fechada.

 

Um dia já fomos ternura, já fomos mão que conforta e acalma, um dia já fomos de tudo, sol poente e fria alvorada. Um dia já fomos capazes, de nos render sem condições, ao amor que nos une sem limites, ao ritmo do bater dos corações. Um dia já fomos mão na mão, sem medo de nada. Agora somos assim, um só ser, uma só alma, uma só vida para ser contada.

 

 

 

 

 

 

 

Pág. 2/2

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D