Não sou outra. Sou eu. Com qualidades e virtudes, defeitos e manias. Eu.
Não sou falsa nem mentirosa. Não sou pretensiosa. Não sou interesseira.
Não sou louca – às vezes sou e sabe bem – nem sou completamente sã.
Não sou má mãe e não sou uma mãe perfeita. Não sou uma miúda nem
sou já uma senhora. Não sou indecisa. Não sou cobarde. Não sou ignorante
nem pirosa. Não sou mal-educada. Não sou rude. Não sou solitária. Não
sou infeliz, embora tenho momentos de tristeza, de solidão, de fraqueza, de
desilusão. Não sou fraca. Antes fosse e deixasse a vida levar-me na corrente.
Não sou calma. Não sou de choros. Não sou infiel nem desleal. Não sou egoísta.
Não sou de rancores. Não sou incapaz de perdoar. Não sou capaz de só ver
o mau e a maldade. Não acredito na crueldade. Na maldade gratuita. Não sou
descrente, desprovida de fé ou de crenças. Mas nem sempre tenho a certeza
de acreditar. Não sou capaz de não ajudar. Não sou capaz de não estender a
mão. Não sou capaz de, chegada a um ponto de exaustão, dizer as coisas com
tacto e com calma. Mas sou paciente até ao meu limite, que está muito para
além do limite dos outros. Há quem chame a isto apatia. Não sou astuta, não
faço as coisas de caso pensado. Não traço planos e ajo em consequência
para obter resultados. Não sou maliciosa.
Não sou de ninguém. Sou minha por vezes e outras vezes nem isso serei.
Não sou intriguista. Não sou mal-agradecida. Não sou apática nem preguiçosa.
Sou atenta, cuidadosa, terna, carinhosa. Paciente. Generosa. Sorridente.
Confiante. Sou distraída.Sou esquecida. Estou sempre atrasada. Não consigo
dormir até tarde. Às vezes esquço-me de rir. Outras pretendo não chorar.
Não sou outra. Não sou sempre a mesma. Não sou apenas um conjunto
articulado de adjectivos e desejos. Sou mulher e mãe a tempo inteiro.
Não sou a ideia que tens de mim. Não sou prática nem racional. Sou
profundamente emotiva e imprevisível. Mas sou de confiança e de confiar.
E, se bem que a vida me tenha ensinado algumas coisas, não sou nem
serei jamais pessimista, não sou nem serei jamais derrotista, não sou nem
serei jamais apenas um registo na memória das vidas.
Não sou desprovida de sentimentos, de medos e traumas. Não sou desprovida
de sentido da realidade, não vivo num mundo mágico inventado, não espero
que a vida me traga as coisas, vou de passo firme atrás delas. Não sou de
ficar presa ao que já não interessa, mas não desisto até tudo estar esgotado.
Não sou fácil. Não sou dócil. Não sou nada menos que apaixonada e
não tenho medo de quase nada. Não sou estas palavras. Não sou capaz de
destratar sequer quem me fez mal.
Não sou apenas uma imagem da mim. Não sou apenas um perfume no ar.
Sou, com loucuras defeitos e manias, alguém que vive para (te) amar.
ah! não sou diplomata!