Amanhã tenho que…Amanhã faço isso. Devia passar por lá hoje, mas tinha que ir de
propósito, amanhã no regresso passo por lá. Queria ligar à Maria, à Felipa, à Catarina,
à Filomena, mas já é tarde, amanhã trato disso. É preciso mudar isto, arrumar aquilo,
trocar a lâmpada ali, aqui, é preciso…amanhã trato disso.
Tenho saudades da praia, de andar descalça na areia, de voltar para a “minha casa”.
Apetecia-me mesmo era um café numa esplanada ao sol, mas sozinha…talvez ligue à Susana.
Mas oh, já passa das cinco da tarde, com certeza já tem planos e o sol está quase a desaparecer.
Amanhã ligo-lhe, cedo.
Tenho que perder meia dúzia de quilos. Assim que acabar este chocolate não como mais nenhum.
A partir de amanhã só como sopa.
Tenho saudades do António, do Manuel, da Sónia, do Ricardo, do Rodrigo. Há tanto tempo que não
sei nada deles. Do Tiago, da Catarina, da Isabel. Do Pedro e da Inês, da Silvia. Deixei passar tanto
tempo sem lhe ligar, sem saber deles. Gostava de vê-los, de saber como estão. Mas nem sei bem
como fazer. Talvez lhes escreva um e-mail. Vou pensar nisso durante a noite, amanhã escrevo.
O meu filho está tão grande! Já faz tantas coisas sozinho! Hoje portou-se tão bem durante o passeio.
Ajudou tanto em casa, com sorriso e boa vontade. Devia ter-lhe dito que estava grata, que gosto dele
e de ver que é um menino atento e carinhoso. Amanhã, hoje já é muito tarde, já está a dormir.
Amanhã digo-lhe que o amo e me orgulho muito do filho que tenho. Amanhã telefono.
Amanhã convido. Amanhã digo-lhe.
Amanhã faço. Amanhã perdoo. Amanhã digo que amo. Amanhã.
Todos os dias têm um amanhã e todos os dias se perdem carinhos e mimos,
se aumentam saudades, se alongam distâncias simplesmente porque,
tragicamente, existe um amanhã.
Ah! Amanhã esqueço. Amanhã desisto. Amanhã....mudo de vida!
Um amanhã em que tudo se faz fácil, tudo se faz, tudo acontece...
amanhã.