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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Ana

Janeiro 16, 2008

 

 

 

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Na verdade não se chamava Ana. Apeteceu-lhe chamar-se assim. Nem tinha trinta anos, nem andava perto sequer. Tinha acabado de fazer dezoito e apetecia-lhe brincar. Não era alta nem morena, nem tinha sardas, nem nada que a fizesse notar. Não tinha namorado. Eram infantis e parvos. Eram miúdos e ela uma adulta num corpo que não a queria acompanhar. Mas agora já tinha carta. As coisas haviam de mudar. Podia sair sozinha. E tinha que ir àquele bar.

 

O carro era quase novo. Foram muitas as recomendações. Vê a que horas voltas. Cuidado com os rapazes! (Se eles soubessem! Rapazes quando o bar estava cheio de homens!) Não bebas. No máximo uma cerveja. Se precisares telefona, que te vamos buscar. Afinal tinha carta, não tinha? Se tinha carta sabia conduzir. Que mania de andar sempre a chatear, a recomendar, a dar sermão. Ela era adulta, o seu corpo é que não!

 

Ana, porque é assim que lhe apetece chamar-se, não tinha pressa. Levou as amigas a casa. Despediu-se devagar. Amanhã a gente conversa…

Saiu do carro, de saltos tão altos que quase não podia andar. Olhos e lábios maquilhados, e um brilho diferente no olhar. Hesitou um segundo à porta, mas afinal se tinha vindo era para entrar. Sentou-se numa mesa baixa, a um canto. Pediu o que queria, perguntou se podia fumar.

 

Foram passando alguns pela mesa, mas só um se veio sentar. Saíram de braço dado, a Ana sempre a tropeçar. As ondas do mar traziam cheiro de sonhos e de mistérios por desvendar. E a noite fez-se madrugada.

 

Estacionou o carro na garagem. Ficou debaixo do chuveiro até a água gelar. Depois deitou-se na cama e esperou que o sono a viesse buscar. A Ana já não chora. As lágrimas acabaram por secar. Nunca mais disse uma palavra, e perdeu o brilho do olhar. 

 

Amontoam-se livros e cadernos, mas o tempo passa e não lhes quer tocar. Aumentam os intervalos entre visitas e sabe que um dia vão acabar. As amigas namoram, algumas falam em casar. Ana acorda e adormece. Raramente se lembra de comer. Não sai de casa, porque não lhe apetece. Não tem vida porque a vida a deixou morrer.

 

Ana, que não se chama assim, não quis dar tempo ao tempo, teve pressa de crescer. E de cada vez que aquele carro passa, assustada disfarça, mas continua a estremecer….

 

E do tempo a que quis dar pressa, fez tempo de se perder.

  

 

 

 

 

 

 

 

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