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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

L.

Fevereiro 10, 2008

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A velocidade a que o carro engolia a estrada reflectia claramente aquela a que os seus pensamentos se perdiam. Entre cada sacudir de cabeça e tentar afastar o sorriso que lhe pairava diante dos olhos, o carro enchia-se do cheiro dela e todos os seus sentidos, por mais que o quisesse evitar, gritavam o nome dela como ele nunca soubera gritar.

 

Naquela tarde o destino decidira juntá-los, encontraram-se numa passadeira, por acaso. Ela a pé, ele de carro. Ela de regresso a casa, ele a caminho de uma reunião importante, e já atrasado. Por pouco não a atropelava….de cada vez que pensava nisto o seu coração dava um salto. Ela, sorridente e bela, de cabelo solto em cachos, o pé distraidamente fora do passeio, ele, furioso e apressado, quase nem viu o semáforo avariado.

 

- Luísa?!

 

Voltou a olhar. Com certeza o seu cérebro lhe pregava partidas, por estar na cidade dela, só isso. Mas não, era ela sim. De olhar fixo nele, como um alfinete ou uma flecha, feito de mil perguntas e outras tantas promessas. Saiu do carro, sem pensar na fila que lentamente se formava, sem ouvir buzinar, sem ver nada além dela. E prendeu-a carinhosa e demoradamente nos braços, enterrando a cara no seu cabelo, aspirou o cheiro dela, afogou saudades sem apelo.

 

Ela não pronunciou uma palavra, muda de espanto e temor, receosa que agora que o via, todas as suas boas intenções valessem menos que nada.  Mas deu-lhe a mão, e sentou-se no carro, ainda que sem saber bem porquê, sem querer ter certezas de nada. Ele falou, disse ao que vinha, mas que estava muito atrasado, a reunião seria adiada. Ofereceu-lhe um gelado, apesar da fria tarde de Inverno, ela aceitou, calada.

 

Na esplanada frente ao mar, avistavam gaivotas. Num vai e vem constante, numa azáfama permanente de quem vive desocupada. O primeiro beijo foi trocado assim, de caras viradas ao sol, numa esplanada, numa tarde roubada à vida. E as bocas não mais se largaram, dizendo tudo o que escondiam em palavras. E as mãos, entrelaçadas, fizeram juras secretas, aninharam-se uma na outra, e assim ficaram.

 

Mas chegou a hora de fechar a porta, voltar ao carro, rumar a casa, a dela já ao virar da esquina, a dele, tão afastada. Estacionado à beira da praia, beijou-a como quem bebe vida, prendeu-a como quem prende a saudade, como quem abre de novo uma ferida. E deixou-a à porta de casa, de cabelo solto a dançar ao vento, olhos marejados e no entanto, nem um olhar para trás no derradeiro momento.

 

Agarrou nas chaves e despediu-se com um beijo leve. Desceu as escadas, café e jornal, o bom dia de sempre, o pedido habitual, as conversas dos vizinhos, numa manhã normal. Entrou no carro e foi invadido pelo cheiro dela e pela certeza que nunca, por mais que o tempo e a distância pudessem fazer, ele iria esquecer o amor daquela mulher….

 

 

Letra da música aqui.

 

Le Geant De Papier...

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