Viagem
Março 23, 2008
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Deslizo devagar por vales fumegantes, não tenho pés, não tenho asas, não tenho peso. Ser etéreo de contornos indefinidos, desço na corrente até às cascatas salgadas, Vagueio no ar entre nuvens densas e geladas, provo doces sabores das flores daqui, Mordo sem esforço as frutas dos cumes, aspiro perfumes que nunca antes senti.
Sentada no ponto mais alto observo a vida a passar, correntes de carros, de água, lava incandescente a desaparecer. Vejo o mar revolto e os rios de calma que não se deixam demover de seguir o seu curso, vejo crianças que gritam e pulam, vejo o céu a arder.
Vejo sorrisos em rostos idos, vejo gestos que já esqueci, vejo esperança em rostos escondidos, vejo o tempo que faz de tudo lava, que tudo leva pela frente sem escolher, vejo a noite e a madrugada e o sol que nasce sem se esconder, vejo a lua, iluminada, vejo a Terra a morrer.
Vejo segredos que se guardam em caixas de música, palavras que se deixam de dizer, notas que se soltam de longas melodias, que valem por tudo o que haveria a esconder. Vejo mãos que se perdem e enlaçam, mãos que se prendem e aquecem, esqueço tudo o resto e vejo apenas, mãos que me sabem receber.
Deslizo dos vales fumegantes, todo o meu corpo se encontra em ti, cada contorno do meu ser te procura, se encaixa e reconfigura, perfeita metade de ti. No calor do teu peito reescrevo visitas, guardo memórias, seco lágrimas aflitas, no sabor do teu beijo apago histórias, redefino a vida, reinvento estórias. Viajo no teu corpo ao sabor de mim. Encontro-me, perdida em ti.
Letra da música aqui