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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Estranha forma de vida

Novembro 12, 2008

 

 

(I)

Ontem não te vi. Sentei-me como de costume junto ao vidro da esquina. Pedi o mesmo chá de sempre, a mesma fatia de bolo. Estava tudo igual. A única diferença é que por vezes escorre água pelos vidros, que tornam indistintos o teu sorriso e o teu olhar. De resto, todas as minhas tardes são iguais. Como o mesmo bolo de maçã e canela com que nos deliciávamos, bebo o mesmo chá que sempre bebi. Sento-me na mesma cadeira de sempre, porque deixo a outra vazia para ti. Não sei se alguma vez me viste. Sentada no canto, de frente para o vidro. Procurando-te com o olhar de cada vez que a porta gira. O edifico sombrio em que trabalhas tem isto de bom, o café em frente,  com vista para a tua vida.

(II)

Mas ontem não te vi. E tu nunca deixaste de aparecer. Nunca deixaste de sair à mesma hora, nunca deixaste de fazer o mesmo percurso. Apenas deixaste de entrar sorridente pela porta do café e de te sentar ao meu lado para me contar o teu dia. Nunca deixaste de sair a horas. O que pode ter-te acontecido para que descures o teu ritual sagrado de trabalho de segunda a sexta? Onde podes estar que não vens passar à minha frente, para me encher os olhos de brilho? Não tiras férias em Outubro. Não faz parte do ritual. Férias são sagradas. No verão. No final do ano. As férias são para passar com quem se gosta. Onde estás tu, tu de quem eu gosto, ainda que não gostes de mim, tu que espero e por não te ver desespero assim. Onde estás?

(III)

Ontem não te vi. Voltei para casa sem saber como não perdi o rumo. O teu ritual quebrado desfez o meu. Acabou-se a semana sem me despedir de ti. O que te fez desaparecer assim? Passei pela tua casa hoje. A luz da sala estava acesa, depois apagou-se. Achei que era um bom sinal. Depois vi as sombras na parede do teu quarto. Duas sombras. Depois vi-vos pela transparência desfocada das cortinas que escolhi para a janela do quarto. E ouvi-lhe o riso quando a veio fechar. E deixei que as mãos dela fechassem todas as portas e todas as janelas e quebrassem todas as pontes entre tudo o que não existe e eu. E uma parte de mim, hoje, morreu.

 

 

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