e cai a noite na ilha...
Julho 03, 2012
A transição entre a noite e o dia fazia-se lentamente, deixando no céu uma paleta de cinzas azulados raiados de pôr-do-sol cadente.
A lua, curiosa, percorria o céu sereno e cambiante ao ritmo dos ocasionais toques entre barcos que quebravam, ou pontuavam, a cadência das ondas esmorecidas que chegavam ao pequeno porto.
Tudo aqui era tão diferente! Os cheiros, as cores, até a paisagem. A perder de vista, à distância, havia apenas mar e a sua importância. Afastou-se da janela sem vontade. Teria ficado ali o resto da noite, à espera de ver a lua banhar-se naquele oceano infinito e cálido até o sol despertar, quebrando a magia do banho lunar.
Obrigou-se a abrir a mala e procurar algumas coisas necessárias. Nem sequer tocou na roupa. Afastou as cortinas e abriu completamente a janela. Depois tomou um duche rápido e revigorante, vestiu uns calções e uma t-shirt, sentindo o prazer de vestir roupa que o corpo já conhecia e na qual era exactamente quem tinha sonhado ser. Gostava dos fatos. Do corte e da elegância. Da imagem que transmitiam. Mas…vestir-se de liberdade tinha um sabor tão diferente! O bater seco do cordame dos barcos…e uma leve brisa a entrar pelo quarto.
Sobre a consola, a garrafa de vinho aguardava. Fresca. Rabiscou umas palavras no verso de um cartão, calçou-se, serviu meio copo de vinho, pegou no saco e saiu do quarto, o cabelo ainda húmido, deixando atrás de si um perfume fresco de vitalidade. Desceu as escadas, deixou a chave, o copo de vinho e o cartão em cima do balcão, e saiu pelas portas vidradas com um curto e sorridente “até já”.
II
Havia tão pouca gente na rua àquela hora que receou não encontrar quem o levasse. Se não fosse de barco, não ia chegar a tempo. Estugou o passo. Entrou na taberna do porto e perguntou se haveria alguém para o levar ao outro extremo da ilha.
- São só uns minutos de carro
- mas eu preciso de ir por mar.
- vá além, à ponta. O Trocas inda é capaz de lá ir.
- Obrigada. É o último barco, é isso? O azul?
- sim. Mas olhe…leve-lhe isto, disse-lhe o taberneiro estendendo-lhe uma cerveja. A boa vontade aqui vale mais que o seu dinheiro.
- ah! Obrigada, disse com um meio sorriso, admirado e divertido com os modos daquela gente.
- quanto é?
- paga quando voltar. Essa e a outra.
- a outra? Está combinado. Mas sou capaz de demorar.
- deixe lá isso. Aqui ninguém tem pressa.
Ainda a sorrir e com a cerveja na mão, dirigiu-se ao pequeno barco azul, o saco às costas. Havia muito tempo que não se sentia tão leve.
Deitado dentro do barco, parecendo dormir, estava um jovem, descalço, de camisa puída e calções de banho.
- ah! Então já vem da taberna do Alberto disse, vendo a cerveja. Mas agora não vou a lado nenhum.
- eu só queria que me levasse, além, à ponta da ilha. E pago-lhe, claro.
- mas eu não o posso levar agora. Estou à espera.
- à espera de mais gente? Eu queria aproveitara luz…
- à espera da lua. À espera da lua que toca no cimo da colina e desce, devagar, como quem escorrega, até ao mar.
- a lua desce até ao mar? isso deve ser de madrugada. De certeza que não me pode levar? Deve conseguir voltar a tempo de ainda ver a lua…
- não. Não posso. Como lhe digo, estou à espera. Mas pode esperar comigo.
- talvez seja melhor procurar quem me leve, uma vez que não está interessado.
Raios! E agora como é que ia chegar à outra ponta a tempo? E como é que era possível a lua chegar ao mar? Estava a começar a procurar gente noutras embarcações quando o Trocas lhe disse
- se tem assim tanta pressa de chegar à ponta da ilha, vá de carro. São cinco minutos. Demora mais de barco. Se a pressa não for tanta assim,e se não quer desperdiçar uma cerveja fresca, entre e sente-se aqui.
Entrou no barco e estendeu a cerveja ao rapaz. Este recusou-a dizendo - essa é sua - e abrindo uma cerveja surgida do nada.
- então quer ir à ponta da ilha. Vai atrás da lenda?
- da lenda? Que lenda?
- da lenda da Senhora da Atlântida.
- não, por acaso ia atrás da luz. Mas com esta conversa já devo ter perdido o que queria apanhar. Que lenda é essa de que nunca ouvi falar?
- a lenda é conhecida de poucos e mesmo esses não querem acreditar. A senhora da Atlântida era Senhora de toda a Ilha. Antes do naufrágio e do dilúvio, antes dos vulcões acordarem, as ilhas dos Açores eram só uma. Um reino de paz e de harmonia. Nele mandavam a Senhora dos Tempos e a Lua. No dia em que a lua dança com o mar, a Senhora dos Tempos regressa. Só nesse dia.
- ah! E hoje é esse dia?! Daí a espera…
Sorriu. Era jovem o rapaz, mas não tão jovem que acreditasse em lendas. Mas o entusiasmo com que partilhava a estória fê-lo perguntar:
-e o que é que acontece nesse dia? No dia em que a Senhora regressa?
- não sei. Todos contam uma história diferente. Há quem tenha visto o futuro,
Há quem tenha voltado atrás. Há quem tenha largado tudo e vindo para a ilha, na esperança de “a” voltar a encontrar. O médico da aldeia veio cá parar assim. Não há dia que não se deixe ver, além ao fundo, daquele lado, de bordão na mão, descendo até ao mar. A família já se foi embora, dando-o por louco ou por tresloucar. Mas ele não perdeu o juízo. Viu-a, sabe? E agora não deixa de “a” procurar.
III
O cinzento do céu ia ficando mais carregado, como se um decorador invisível fosse estendendo véus por cima de véus. Olhou em volta. Tudo o que queria era chegar ao outro lado da ilha. Fazer o que tinha vindo fazer e ir embora. Mas já não tinha tanta pressa. Talvez fosse da estória, ou dos olhos brilhantes de quem lha contava, ou das cervejas que já tinham bebido, devagar, enquanto o canto do mar os embalava…
Fechou os olhos enquanto ouvia mais relatos de quem tinha vindo atrás da lenda. Recostado no barco, ao sabor das ondas e do vento,as palavras, cada vez mais distantes, desvaneciam-se. Apenas ficava a harmonia da voz, a cadência, o arrastar dos sons desta gente, desta fala tão estranha…
As cervejas pareciam não acabar e a partilha de estórias também não. O Trocas falou-lhe da Senhora, e do Guardião. Ele falou-lhe de como tinha vindo parar à ilha, em trabalho,e de como tudo lhe parecia ao mesmo tempo tão familiar e tão estranho. Da vida da cidade, das correrias, das noites em claro. O Trocas falou-lhe do curso, da viagem que os pais lhe tinham oferecido, de resultados, de excelência, de todos os empregos que tinha recusado.
- e o que é que faz aqui?
- o que sempre sonhei fazer. Aquilo que escolhi. Faço aqui exactamente aquilo que me apaixona. Vivo!
- assim? À espera dentro de um barco?
- sim. Assim. Umas vezes à espera, outras vez à pesca. Umas vezes a contar lendas, outras a fazer travessias.
- Pai! Pai!
Virou-se, mesmo atempo dever duas crianças pequenas, loiras e sorridentes, a correr pelo pontão. Estacaram junto ao barco, vendo-o.
- Boa noite Senhor.
- Boa noite meninas.
- A mãe diz que a lua hoje não vai dançar. Há puré com flores para o jantar.
- Pedimos à mãe que coloque outro prato?
O Trocas saiu do barco a sorrir, abraçou as filhas, pediu-lhes que fizessem isso. Que esta noite tinham um convidado especial.
- Venha. A Rita cozinha bem e a esta hora não arranja onde jantar.
- não quero de todo incomodá-lo. Só queria chegar ao outro lado da ilha. Já lhe roubei muito tempo…
- aqui o tempo não existe. Vamos, comer puré com flores.
Seguiram na direcção oposta àquela de que tinha vindo. A estrada desaparecia, dando lugar a um cada vez mais estreito caminho que subia levemente, como a encosta. Não se avistava nada para além da colina, recortada a preto no cinzento escuro e cambiante do céu.
Parou para olhar em volta. Na quase escuridão, distinguiam-se pontos de brilho ao longo do trilho.
- como é que iluminaram o caminho, perguntou?
- obra das minhas princesas. Apanham pedras na outra ponta da ilha, mais claras do que a terra e as rochas daqui. À noite, ao luar, parecem espargir a luz que recolheram durante o dia. Não sei ainda que rochas são. Chamam-lhes "pedras-de-luz". - são meias magas- saem à mãe, disse com um sorriso.
Alguns passos mais à frente, parou. Desviando-se para deixar o olhar do convidado abarcar a paisagem.
- não pode ser!
A poucos metros, lá em baixo, quase banhada pelo mar, aninhava-se uma pequena casa de madeira, rodeada de flores e arbustos, protegida do vento por uma cortina de árvores.
Escadas de pedra e madeira desciam até à praia, um cão corria por entre as meninas ao encontro dos dois homens.
- Pai! Pai! Amigo! Amigo!
Vieram a correr até eles e desceram novamente até à casa, de cujo jardim, iluminado or lamparinas, lhes chegavam aromas de plantas aromáticas, frutas maduras e limão.
- Rita! Chegámos.
- Está quase! Podem sentar-se.
As meninas apareceram, trazendo para a mesa pratos e travessas repletos de comida.
- tem um batalhão de cozinheiros a trabalhar para si? perguntou ao Trocas. Este riu-se e respondeu-lhe “ não, casei com uma maga…”
Por fim as meninas sentaram-se, olhando curiosas para aquele convidado tão alto e moreno, tão diferente da gente da ilha.
- também sabes fazer magia?
- magia?
- sim, magia.
Não teve tempo de responder-lhes. Da casa saíam o Trocas e a Rita, vestidos de branco, copos e garrafa de vinho nas mãos.
- Boa noite, disse ela. Aquela voz era doce e quente, familiar e no entanto exótica. A Rita, como tudo naquele lugar, parecia ter algo de irreal mas era inegavelmente autêntica.
- meninas, disse a Rita, hoje temos um convidado especial. Vamos ensinar-lhe o nosso ritual?
- Sim, sim! Eu ensino! Eu ensino! Vamos todos dar as mãos.
As meninas agradeceram, enquanto olhavam para todos os presentes à mesa e sorriam, o dia de sol, a presença de um novo amigo, a comida e o tempo que podiam partilhar com ele.
Comeram, sem pressas, conversaram. Sorriram e riram muito e cantaram.Não conseguiu por um momento livrar-se da sensação de estar a viver noutra dimensão, noutra realidade. Tudo ali decorria de maneira tão calma e serena; o mar banhava de espuma os degraus da escada, o cão dormia no tapete da entrada e o gato, dormia-lhe no colo. Este cenário, ao mesmo tempo que parecia uma criação fantástica, representava uma serão normal, em família.
A Rita trabalhava ali perto, o Ricardo era orientador de estágio de biólogos marinhos americanos. A Rute e a Raquel, gémeas, frequentavam a escola local. Da única vez que tinham saído da ilha tinham ficado doentes de saudades e os pais tinham interrompido as férias para voltar.
Talvez fosse o vinho que projectava sobre tudo uma aura de irrealidade. Talvez fosse o movimento cadenciado do mar. Ou os aromas inebriantes das ervas aromáticas do jardim…tudo parecia tão normal e ao mesmo tempo, impossível.
Ofereceu-se para ajudar a arrumar, depois de terem acabado com a deliciosa sobremesa que as meninas lhe disseram ser Sol-de-Mel. Mas não aceitaram. Em vez disso as meninas atiraram-no para cima da grande cadeira de baloiço do alpendre pedindo entre gritos e risos que lhes contasse uma estória.
Havia muito tempo que não contava estórias a meninas tão pequenas. Lembrou-se, então, do saco e de um esboço de projecto que tinha começado tempos atrás.
Para quem crescera na Ilha, as meninas mostraram-se à vontade com a tecnologia, passando as fotografias para trás e para a frente, ao ritmo dos pormenores para os quais a narrativa dele lhes despertava a atenção. Suspiraram e sorriram com os brancos de sol e os azuis profundos da Grécia, beberam imaginários litros de água-de-coco do Brasil, mergulharam com peixes gigantescos, coloridos e amistosos cujos nomes não conseguiam dizer até adormecerem, aninhadas no peito daquele novo amigo, que as intrigava e as fazia rir.
Ajudou o Ricardo a levar a s meninas para o quarto, deixando que a mãe as ajudasse a deitar. Entre bocejos e abraços, murmuram um
“boa noite amigo, sonha com mais estórias” e deram-lhe abraços apertados.
O anfitrião trouxe café, quando ele se preparava para se despedir.
Sentu-se nos degraus do alpendre, sob a luz das lamparinase e a Rita não demorou a vir fazer-lhes companhia, aninhando-se junto ao marido, murmurando uma canção de embalar.
- Foi tão bom tê-lo como convidado para jantar. As meninas adoraram conhecer os países do mar do sul..., -disse-lhe sorrindo- Vai ficar na Ilha?
- não, não vou ficar. Não posso. Vim apenas em trabalho, regresso amanhã. Acabou de falar como num suspiro, como se o mundo inteiro lhe estivesse a pesar
A Rita sorriu de novo. Olhou para o Ricardo e voltou a procurar-lhe o olhar.
- Não, não vai ficar. Mas uma parte da Ilha vai ficar em si. E sabe que tem sempre onde ficar. E duas cabeças pequenas e curiosas, ansiosas por vê-lo voltar e ouvir as estórias das imagens que fotografar.
- Obrigado, Rita. Obrigado, Ricardo. Creio que está na hora de ir. Afinal amanhã é dia de trabalho e ainda tenho que encontrar quem me leve ao outro lado da ilha.
-Não se preocupe. Amanhã, às oito, terá à porta da estalagem quem o queira levar - disse o Ricardo entre risos - ao contrário de um miúdo pescador armado em importante e misterioso com luas e lendas para o atrasar.
- Atrasar-me? Diga antes impedir-me de trabalhar! A verdade é que nem sei como agradecer a esse miúdo misterioso, armado em importante e teimoso! Acabam de me oferecer um dos momentos mais valiosos da minha vida. Obrigado, aos dois, mais uma vez, disse pegando no saco e colocando-o ao ombro.
- Volto por onde viemos?
- Não, vou levá-lo por este lado.
Levaram-no até ao contorno da ilha, em silêncio, de mãos dadas.
- A estalagem é já aqui por cima. Basta seguir o caminho bordeado de "pedras-de-luz". São uns trezentos metros, talvez.
A Rita agarrou-lhe na mão, olhou-o nos olhos e disse:
- nem todas as Ilhas têm o mesmo tamanho. Ou a mesma forma. Nem todas as ilhas são assim, juncadas de "pedras-de-luz" e envoltas em lendas. Mas todas as Ilhas são misteriosas, mágicas e eternas. Só tem de as ouvir cantar…
O Ricardo deu-lhe um abraço e separaram-se assim, ele a subir a encosta, ainda pasmo e entorpecido, sem conseguir acreditar, mesmo sabendo que tudo tinha acontecido. Eles de mãos dadas, a trautear canções de embalar, de regresso à casa de madeira, aninhada numa depressão da ilha.
Foi fácil encontrar o caminho entre as pedras brilhantes ao luar e rapidamente chegou à estalagem. Não viu ninguém na entrada, a chave do quarto estava em cima do balcão, levou-a, atirou-se para cima da cama e adormeceu.
IV
Acordou ainda envolto em sonhos, sem saber porque tinha despertado. Demorou a voltar ao quarto, à vida, à realidade de um telemóvel que toca sem descanso. Levantou-se e deixou tudo pronto para sair. A mala pronta e fechada, o equipamento que não ia usar guardado. Desceu e encontrou à porta um carro, e um rapazote sorridente que lhe disse sem esperar:
- Bom dia! é hoje que vai à ponta da ilha? Já comeu?
- não, ainda não. - respondeu.
- então venha daí que o Alberto já deve ter pão quente.
Era muito cedo na ilha. O nevoeiro cobria parte do mar, escondia parte do porto até, fazendo com que os sons dos barcos ali chegassem abafados, como se não fossem próximos ou reais.
Lembrou-se do jantar e da casa de madeira e sorriu. Que gente estranhamente deliciosa. Que paz, que harmonia. Se não lhe tivesse calhado viver tal estória e lha tivessem contado, talvez não tivesse acreditado. Apressou-se a comer, pagar e agradecer. Saiu para o outro lado da ilha, fotografou o ponto assinalado e voltou, quase sempre em silêncio, revivendo para si a noite anterior.
- obrigado. -disse ao rapaz. Quanto lhe devo? Pagou-lhe, meio alheado, pensando já em como faria para passar pela taberna, pagar a cerveja da véspera, a “outra” de que o Alberto lhe tinha falado e, despedir-se, pelo menos do Trocas, antes de entrar no pequeno avião que já se avistava na pista.
Entregou a bagagem na recepção, ficando apenas com o saco de equipamento que tinha levado na véspera e pedindo que por favor a entregassem no embarque, que ele lá iria ter um pouco mais tarde.
Tratadas as formalidades, correu para a taberna, amaldiçoando a roupa de trabalho que o prendia.
- Alberto! Alberto!
- O Alberto não está, senhor.
- Não?!
- Não. Posso ajudá-lo?
- Quero pagar uma cerveja, que fiquei a dever-lhe ontem. Na verdade, quero pagar duas cervejas. Uma que bebi ontem, outra para levar agora ali ao Trocas. Sabe se está no barco?
- Trocas?
- Sim, o Ricardo, do barco azul.
- Não conheço nenhum Ricardo. E conheço toda a gente da ilha. Também não conheço nenhum Trocas e o barco azul ali ao fundo, está parado há anos. Era de um professor de biologia.
- Desculpe. Deve estar a fazer confusão. Estou a falar-lhe do Ricardo, que vive com a família ali ao fundo, numa casa de madeira, na depressão da colina.
- Não, não. Desse lado da ilha não vive ninguém. É feita de escarpas de pedra, negra como a noite.
- Mas e esse professor de biologia?
- Foi mais um que se perdeu por ai, em busca da lenda.
- Da lenda da Senhora dos Tempos?
- Sim, essa. Também veio à procura dela?
- Não. Sim. Não sei. E a Rita? Conhece a Rita?
- Não. Somos menos de 50 habitantes nesta ilha. Nem Ricardo nem Rita. Lamento senhor. Posso ajudá-lo em mais alguma coisa?
- Não, não, obrigado.
Saiu levando a cerveja.
Dirigiu-se ao barco azul que, de facto, parecia já ter visto melhores dias. Pensou voltar à estalagem e perguntar pela família, mas já vinham procurá-lo. O avião estava pronto para partir e, nas ilhas, não pode haver atrasos e os imprevistos são, regra geral fatais, pelo que tinha que ir sem demoras.
Foi para o avião de cerveja na mão, sem conseguir ordenar os pensamentos. Não deixou que a hospedeira lhe guardasse o saco, preferindo antes guardar a cerveja na bolsa lateral, passando as mãos pela tela rugosa, tacteando tudo o que o rodeava e ele podia sentir.
A cerveja não coube e bateu em algo que estava no fundo do bolso. Como não podia juntá-la às máquinas, abriu o bolso e tirou de lá 2 “pedras-da-luz” e um cartão da Estalagem da Ilha.
Cada pedra tinha desenhado um sorriso e, no cartão onde ele tinha escrito “ um brinde ao sorriso que acolhe quem chega” leu:
“À vida, que brinda com felicidade eterna quem sabe ouvir a canção da Ilha” Até Sempre!
R, R, R e R.
" e cai a noite na ilha" nasceu daqui. Obrigada!