AnGeR
Outubro 04, 2008
Do recôndito espaço onde adormeço e me agarras, sinto as tuas mãos, dedos como garras. Do silêncio inquieto povoado de palavras, nascem movimentos, bordados de asas. Não há tempo, entre as horas que se esgotam, não há segredos nos infinitos que se gostam. Não há sorrisos camuflados de lágrimas, nem urgências perdidas nos “agora”. Do esquecido calor que emana do teu corpo, sinto-te presente e distante, aconchego e dor. Do vento que entra livremente pelas janelas, sabores agri-doces de mentiras singelas.
Do infinito díspar de sentimentos que se fundem, lágrimas cor-de-prata de nuvens que se afastam e iludem. Tempestades e trovões e todas as injurias, num manto de linho fresco, entre flores e ternas juras. Sol. Como queimaduras, desculpas em farrapos, como ligaduras. Não há veneno mais cruel nem pior mordedura, que a picada real em ferida madura. Não há silêncios balsámicos, nem gritos em armaduras, nem preço que pague o preço de deixar ganhar a vida. E adormeço aqui, entre areia e mar, no espaço onde me agarrras e não me deixo tocar.