Des- a linha -da
Outubro 25, 2012
Parafraseando, há uma linha que separa a minha vida das outras. Não tem cor, não tem nome. Não tem sequer uma forma definida. Não se declina em várias opções mas é multifuncional. Retrai-se, alonga-se. Estica-se, adensa-se. Enrola-se, sobrepõe-se. É invisível, como todas as boas linhas devem ser. Mas presente e constante. Como queremos que sejam as coisas boas na nossa vida. É permeável, mas é selectiva. Não é, infelizmente, infalível. Na minha teoria, o espermatozóide que entra no óvulo é aquele que tem o conteúdo exacto para que se possa formar um ser completo e perfeito; tendo em conta que todos eles são únicos, apenas um, e só um poderá abrir a porta. A linha que envolve o primeiro só é permeável ao seu complemento exacto. Ainda assim, por vezes, a máquina da vida falha. Todos nós sabemos com que resultados mais ou menos desastrosos e não é disso que quero falar. Mas serve esta analogia. Para dizer que a linha que separa a minha vida das outras vidas, que a protege e a isola, que me permite dar-me sem me perder, também falha. A minha linha nem sempre é densa o suficiente, macia o suficiente, rígida que baste, maleável quanto se quer. Não é perfeita, digamos. Da minha vida entram e saem pessoas, nem sempre quando eu escolho, nem sempre quando eu quis. À minha vida chegam alegrias e tristezas, umas ficam outras vão-se. Pela minha linha passam felizmente, abraços e sorrisos, nos dois sentidos. Por mais fina ou densa que esteja, mantém espaço para saudades e reencontros. Por mais rígida que se torne, mantém um vislumbre de ternura e, por mais escura que se faça, mantém salpicos de humor e graça. Será inconstante, será severa. Será por vezes teimosa e irascível e outras vezes será vacilante e facilmente “quebrada”. Sim. Como já disse, é imperfeita. É uma linha consistentemente etérea, limite de mim e do que me faz quem sou. Fronteira móvel do meu ser. Uma linha que separa a minha vida das outras. Paralela de certas vidas, perpendicular a outras. Segmento de algumas. Ponto final, por vezes, apenas. Uma linha que não me define e não me contém, que não me fecha e não me retém, que não me solta, me deixa voar, fio de seda colorido do meu papagaio de papel…
Pauta de estranhas melodias, espiral de admiração e espanto, corda desatada de magia, laços de bem-querer tanto…tanto!