Verão
Dezembro 18, 2007
Entre as janelas abertas o céu, infinito, de azuis e prata. O mar longe, lá em baixo, em rugidos ferozes de espuma branca. Livros pelas mesas baixas e o sol a entrar em ondas largas. Entre poltronas e sofás tapetes espalhados ao acaso. Ao sabor do conforto dos donos desta casa. Os gatos entre as flores, caçadores de borboletas e outros insectos voadores, quebram a letargia de mais uma manhã de verão.
Da varanda notas dispersas de música de outro tempo, em teclas de piano que trazem harmonias de sempre. Uma cadeira de baloiço e dobras de linho branco, vislumbres de pele morena e longos cabelos pretos. No tapete multicolor um cão dourado, presos aos barrotes espanta-espíritos e outros artefactos, nascidos da inspiração do momento. E o sol, quebrado pelas trepadeiras sem flores, aquece alguém adormecido em lento movimento.
As gaivotas interrompem o quadro em longos gritos agudos, seguem os pescadores que se agarram à falésia, na esperança vã de roubar alimento a algum deles mais descuidado. Cheira a maresia e a flores, as abelhas dançam contentes. Num demorado torpor, a natureza oferece paz e carícias de vento a uma paisagem agreste apenas ponteada pelas esquinas encobertas da casa.
Embalados pelos ritmos da vida e de um piano ausente, a mãe e o filho imóveis, adormecidos, reflexo dos traços um do outro, abraçados, peles morenas vestidas de branco, cabelos negros de exótico pigmento, abandonados em sonhos de fadas e magia, constroem castelos e preenchem horas vazias. E um ruído ao longe traz novos contornos à pasmada melodia…