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Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Lazy Cat

No meu cérebro vive um caos sinfónico de ideias desordenadas. Num harém simbólico, todas concorrem -APENAS- pelo teu olhar deslumbrado...

Raízes

Junho 07, 2012

Enquanto da sua boca se escapava um suspiro entrecortado, os seus lábios, onde vinham desaguar dois grossos rios de lágrimas,

esboçavam meio sorriso. 

 

Como o tempo, o seu humor era instável, misto, cambiante. O dia ora generosamente quente ora francamente fresco e ventoso espelhava a desordem que sentia por dentro na perfeição, trazendo-lhe esta sintonia de modos de estar algum conforto.

 

Da janela via as árvores, sacudidas pelo vento, deixando cair uma ou outra folha, mas resistindo aos ataques constantes, à perfidia da mudança de direcção do vento, voltando a brilhar intendamente sob os raios quentes do sol para, novamente serem atacadas pelo vento, que talvez as julgasse agora mais indefesas.

 

Sorriu. Não é assim que as coisas funcionam na natureza, pensou. E naquele momento desejou ser árvore... 

 

 

 

 

Favola

- - - - - A estrada - - - - -

Setembro 03, 2008

 

 

 

A estrada estendia-se sinuosa ainda que dela se avistassem apenas laivos de riscos brancos, como num filme a preto e branco antigo se distinguem falhas na pelicula por fugazes salpicos de luz.

Aqui e ali apareciam-lhe rostos familiares, hologramas projectados por uma infernal máquina invisivel que parecia persegui-lhe a vida com imagens desencantadas nos mais profundos baús de memórias, há muito enterrados e até agora corajosamente esquecidos.

Cumprimentava, com um discreto aceno de cabeça e um sorriso vago as caras que a faziam lembrar momentos cálidos, leves, pertença de outra dimensão e de outro espaço que não este, onde aliás não sabia muito bem porque estava, mas a estrada não a cansava, ainda que parecesse não levar a lugar nenhum e, de vez em quando lhe apresentasse rostos de que se desviava com um franzir de sobrolho, embora ficasse a pensar de onde e como e quando e porque lhe apareciam aquelas pessoas agora, a meio de um caminho tão agradável, ainda que escuro e algo misterioso. As imagens surgiam  e desvaneciam-se como  fogo-de-artifício, primeiro leves traços esbatidos de luzes coloridas, depois imagens brilhantes e expressivas, finalmente esmorecidas visões que se desfaziam em nada no breu que as devorava.

De ora em tanto era surpreendida por uma chegada mais vigorosa, fruto de uma lembrança recente ou de algum episódio marcante, mas da mesma forma que as outras, também estas imagens se desvaneciam, deixando lugar apenas à penumbra disfarçada de riscos brancos que pareciam indicar-lhe sempre a direcção da estrada. Batia-lhe no entanto o coração mais depressa, formando um eco no silêncio vazio da noite sem fim, quando um destes fantasmas a transportava sem aviso para outros tempos e outras paragens, para outras estradas, outros mares, e a depositava de novo repentinamente neste fio de estrada sem margem. Mas também o som se calava, afastando-se devagar com o vento que soprava do nada, sem direcção e sem rumo, embalando-lhe a lenta caminhada.

Depois de rever os rostos da sua história, uns sorridentes, outros acabrunhados, uns hesitantes, outros mal-encarados, verfuriosos ou carrancudos, voltava a fechá-los no baú, e mesmmo que quisesse revê-los estavam, desta vez, para sempre apagados.  

Ao fundo da estrada  o livro da vida, calmamente deliciado, ia desfolhando ao sabor do vento páginas que a traziam inevitávelmente ao ultimo capítulo, ainda por escrever, mas já resenhado.

 

 

 

 

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Ao fim da noite

Fevereiro 23, 2008

Ao fim da noite desdobro-me, sou feiticeira e feitiço alado, sou vento que corre leve, no teu peito aconchegado. Ao fim da noite recomeço, com novas artes e magia, sou apenas um pássaro, breve cotovia. Ao fim da noite perco o rumo, deixo o tempo adormecer, sou um fantasma alado, que sabes reconhecer. Ao fim da noite sou piano, cujas notas ouves ao luar, sou melodia eterna, em berço de embalar. Ao fim da noite sou poema, em rimas de inventar, sou anátema em eterno desvendar. Ao fim da noite sou cigana, folhos e luzes de bailar, sou apenas uma sombra de velas a bruxulear. Ao fim da noite sou sereia, em mares de naufragar, sou corrida de estrelas em suspensão no ar. Ao fim da noite sou silêncio, verso e abraçar, ao fim da noite sou segredo, que não sabes encontrar.

 

Ao fim da noite na praia, sou maré em eterno vazar, sou concha vazia e dispersa entre grãos a vaguear. Ao fim da noite na água, sou alga a flutuar, presa ao destino incerto de uma onda a rebentar. Ao fim da noite da ilha, apenas vejo brilhar a candeia que manténs acesa, para te saber procurar. Ao fim da noite sou sacerdotisa do amor que comparte a tua vida, a destrói e suaviza e te faz sentir maior. Ao fim da noite nas trevas, sou borboleta a esvoaçar, queima as asas mas repete, crê que a luz a vai saciar. Ao fim da noite sou infinito espraiado no teu corpo, sou carícia, sou riso, sou gemido rouco. Ao fim da noite sou sonho, palavras de cheiro risonho, versos de recomeçar. Ao fim da noite sou ponte, passadiço por levantar, ao fim da noite sou praia, adormecida ao luar.   

   

    

    

     

     

     

 

 

 

 

 

 

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